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segunda-feira, 15 de julho de 2019

CAI A MENTIRA DE ROMA - SÓ TEMOS A BÍBLIA GRAÇAS À IGREJA CATÓLICA?

Propaganda enganosa papista
Uma antiga teima entre católicos e protestantes reacendeu-se recentemente a partir de um vídeo postado no you tube em que o bispo Dom Henrique Soares da Costa declara que o erro dos protestantes é colocar a Bíblia acima da Igreja, o que foi prontamente replicado pelo pastor Silas Malafaia. O debate teológico já teve tréplica e contra-tréplica e reaquece a impressão de que se trata de um exercício inútil e interminável de retórica, no qual não há vencedores e nunca se chegará a um denominador comum.
Pois bem, investigando os argumentos católicos por diversos apologistas de Roma, encontrei um do padre Paulo Ricardo que por incrível que pareça possui o mérito dos fatos. Ele diz que não vê motivo de se polemizar uma posição que a Igreja Católica defende há tanto tempo. E é verdade! Principalmente desde a Contra-Reforma, no século XVI, diante do avanço do protestantismo, o catolicismo romano sustenta com unhas e dentes que a Igreja está acima da Bíblia, pois a interpretação desta depende exclusivamente de seu Magistério. A antiguidade dessa afirmação é verdadeiramente um fato; fato não é que devemos à Igreja Católica a Bíblia, como diz a imagem que introduz este artigo. É pois o que vamos abordar aqui.
O que de fato é a Igreja: o primeiro grande erro por trás dos sofismas católicos
O catolicismo romano entende a Igreja como uma organização hierarquizada que vai desde o fiel até o papa. Essa organização subsistiria linearmente no tempo através de uma ligação ininterrupta com Jesus através de Seus apóstolos e de seus sucessores imediatos, os bispos. Isto é chamado de "sucessão apostólica" e é um dos motivos pelos quais a Igreja Católica diz ser "a única, verdadeira e original Igreja de Jesus Cristo fundada sobre São Pedro, o primeiro papa".
Para dar uma aparência de legitimidade a esses pressupostos, o romanismo aponta na Bíblia (Mt 16.18) e na Patrística (escritos de bispos que viveram entre o II e o III séculos, chamados "Pais apostólicos") supostos subsídios que comprovariam suas afirmações. Porém quando vamos averiguar tais subsídios, vemos que eles não passam do que chamamos de mito de origem e metanarrativa.
Primeiro, no texto do evangelho de Mateus referido acima, o termo grego ekklesía transliterado "igreja" em português, nunca diz respeito a uma organização, mas a uma assembleia de cidadãos convocados especialmente para uma demanda ou discussão. Esse é o conceito original de ekklesía no contexto da sociedade greco-romana. Então, igreja não tem a ver com uma organização permanente - até porque as assembleias no mundo greco-romano eram feitas e desfeitas. Ela tem a ver com pessoas. Daí a posição protestante e evangélica de que "igreja" no âmbito do NT é um organismo vivo (1 Co 1.2; 16.19; 1 Pe 2.5). Já a alegação católica de que Jesus teria fundado Sua Igreja sobre a autoridade apostólica de Pedro e que este teria sido o primeiro papa, não nos deteremos nela agora para não perdermos o foco. Basta citar textos como At 4.11 e 1 Pe 2.4,6 para termos absoluta certeza de que a Pedra da resposta de Cristo não é Pedro, mas Ele mesmo (o próprio Cristo).
Em segundo lugar, parecerá até pueril, mas Jesus não diz "minha igreja católica" e ainda por cima "romana"... A Igreja é católica, ou seja, universal abrangendo todos os povos (Hb 12.23), mas ela não nasceu católica e sim se tornou católica. No começo ela estava restrita ao âmbito judaico, pois os primeiros cristãos eram judeus. Depois, com a chegada do Evangelho a Samaria e principalmente a Cesareia (At 8.14; 10.1-34), a Igreja foi se universalizando, tornando-se "católica". Um dos mitos que está por trás dos argumentos católicos-romanos é o de que quando um pai apostólico usou o termo - carta de Inácio aos erminenses 8.2 ("Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica"), este estaria se referindo ao sistema católico-romano tal qual nós conhecemos hoje. Porém Inácio foi bispo em Antioquia da Síria entre 68 e 100 ou 107 d.C., quando o catolicismo romano sequer existia. O sistema católico-romano foi se desenvolvendo gradualmente a partir do II século justamente por meio da hierarquia, mas muitos historiadores creditam como primeiro desvio doutrinário a introdução do batismo infantil. Assim, ser "católico" antes do Concílio de Niceia, em 325, não equivalia a ser "católico-romano".
O que acontece nas apologias romanas é uma apropriação indébita do termo "católico". Tais apologistas como o padre Paulo Ricardo presumem que Roma patenteou o uso desde o I século, quando na verdade foi a partir do imperador Constantino, no IV século, que a igreja estatal apropriou-se do termo. Há um sofisma do mesmo padre acima dizendo que nós "protestantes" imaginamos que logo depois de fundar a Igreja, Jesus foi ao cartório e registrou a mesma recebendo um CNPJ. Ora, isso é um sofisma do sofisma! Primeiro que nenhum evangélico ou protestante suficientemente esclarecido jamais pensou num embuste argumentativo desses. Quando um evangélico de conhecimento, no mínimo médio, pensa em Igreja, pensa da mesma forma que Jesus pensou, ou seja, num organismo vivo composto de pessoas. No caso, o homem da batina preta formula esse tipo de raciocínio insano (que é só dele!) porque sabe que o epíteto "romana" veio muito depois. A Igreja de Cristo nasceu de fato apostólica, tornou-se católica, mas jamais foi romana. Aliás, como alguém já disse sabiamente: se a Igreja era católica (universal), não poderia ser concomitantemente romana. Ou ela é universal (católica) ou é apenas local (romana). No caso, quando se trata do conjunto universal de salvos e regenerados, a universalidade exclui a regionalidade. Então, quando algum sacerdote ou pseudo-apologista romano perguntar: que Igreja Jesus fundou em Mt 16.18? Podemos e devemos responder: a sua igreja é que não foi, pois Ele não a fundou sobre Pedro,mas sobre o testemunho dos apóstolos (dos 12) e dos profetas sendo Ele a mesmo a Pedra principal (Ef 2.20). A sua igreja (a dos padres e papas) é até de certa forma católica, pois está presente no mundo todo, mas nunca foi apostólica, pois suas práticas e dogmas contradizem frontalmente a pura e verdadeira doutrina apostólica. Agora, "romana" ninguém pode negar, pois todas as suas heresias e falsas doutrinas são reminiscências do velho paganismo de Roma que os seus patronos, os imperadores lograram patrocinar. Somos, protestantes e evangélicos, não sucessores de uma organização litúrgica morta e cerimonialmente vazia, mas co-herdeiros da mesma Igreja e participantes da mesma promessa em Cristo pelo Evangelho (Ef 3.6). 
Como então protestantes e evangélicos subsistem sem a sucessão linear?
Pra começo de conversa, já deixei implícito que a dita "sucessão apostólica" no catolicismo é balela, papo furado, conversa fiada, outro conto do vigário. Primeiro que Jesus nunca disse "onde estiverem dois ou três bispos sucessores dos meus apóstolos, aí está a minha Igreja". Disse sim "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18.20). É claro que isso não inclui as seitas heréticas, pois elas se reúnem no nome de seus fundadores e sob sua doutrina.
Segundo que o sistema católico-romano nasceu oficialmente em 325, no Concílio de Niceia, sob direção de Constantino, um pagão que fez-se "cristão", mas no fundo era henoteísta (afirmação minha).
E terceiro: os bispos do II e III séculos eram "católicos", mas não católicos-romanos.
Embora o Evangelho tenha chegado até nós por meio de uma certa tradição mantida pelos que nos antecederam, isso só foi possível pelo empenho missionário de homens de Deus que se doaram por Cristo e não pela sucessão católica de seus padres e bispos. Se dependêssemos destes, nunca teríamos conhecido o verdadeiro Evangelho e nem o único Senhor e Salvador: só as heresias e desvios doutrinários de Roma.
A Igreja Católica antecede e é responsável pela Bíblia? Está mesmo o romanismo acima das Escrituras?
Ainda sob o calor das discussões entre o bispo Dom Henrique Soares e o pastor Silas Malafaia, o padre Paulo Ricardo, da arquidiocese de Cuiabá, no Mato Grosso, assevera que o "erro" de lógica de Silas Malafaia é teorizar que sendo Jesus a Palavra de Deus, Ele é anterior à Igreja e mais importante do que esta. Daí ele conclui que para os católicos, a Palavra de Deus não se resume a um livro, mas é, antes, uma Pessoa e esta Pessoa (Jesus) não deixou nada escrito. Coube então  aos Seus apóstolos começarem a escrever algo depois de quase 20 anos após Cristo ascender aos céus. Durante esse período então, a Igreja dependeu exclusivamente da tradição, já que não havia ainda o NT. Posteriormente, com a profusão de livros apócrifos e falsos escritos que se misturavam com os livros canônicos (inspirados), foi somente por intermédio dos concílios de bispos católicos que se chegou a uma precisão de quais livros eram autênticos,  no caso os  27 que temos hoje no NT de nossas bíblias. Destarte, se os protestantes e evangélicos têm hoje uma Bíblia, devem isso à Igreja Católica que não só decidiu sobre os livros verdadeiramente canônicos, mas os copiou através de seus monges, preservou-os e ainda dividiu-os em capítulos e versículos. Só falta o padre dizer que temos de rezar 150 ave-Marias e acender velas...
Desmascarando as mentiras de Roma
O fato de Jesus não ter escrito uma só linha não abre exceção para a tradição católica, pois é isso que o sacerdote romano quer ensejar com tal argumento. Jesus não veio escrever livros, Ele veio salvar o mundo de seus pecados (Mt 1.21). Seu ministério terreno era tríplice: ensinar, pregar e curar (Mt 4.23). Então, Ele não escreveu nada para que dEle se escrevesse (Jo 21.25; Rm 15.4). É verdade que o primeiro livro do NT escrito foi a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, por volta de 50 ou 52 d.C. e que nesses 20 ou 22 anos, a igreja cristã sobreviveu sem nenhuma norma doutrinária escrita. Contudo, o referido padre esqueceu de dizer que antes disso alguns dos apóstolos, principalmente Pedro, Tiago e João, as colunas da Igreja, ainda estavam vivos (Gl 2.9). Quer dizer, mesmo sem o NT, os cristãos primitivos não dependeram coisíssima nenhuma de tradição, muito menos católica, embora a transmissão oral fosse o meio de se propagar o que os apóstolos ensinavam. A Igreja Católica depende hoje de uma tradição escrita para fundamentar suas doutrinas, a igreja primitiva dependeu diretamente dos apóstolos, ou seja, diretamente da revelação divina e, como o padre sofismou, de nada escrito. A diferença é que a Tradição católica não é e nunca foi linearmente Palavra de Deus, mas palavra de homens, que algumas vezes defendiam e ensinavam doutrinas bíblicas, mas em outras vezes estavam em desacordo e até ensinaram heresias, como Tertuliano e Agostinho.
Quanto ao raciocínio de Malafaia de que a Palavra antecede a Igreja, pois a Palavra de Deus é Cristo (Jo 1.1), ela não é incorreta, mas é imprecisa no contexto do debate. O tema em questão é a Palavra escrita, a Bíblia Sagrada. A Igreja em certo sentido, como vimos, antecede à Palavra escrita. Mas não é a Igreja que normatiza a Bíblia e sim a Bíblia que normatiza a Igreja, assim como os constituintes brasileiros de 1988, embora tenham nascido antes da Constituição por eles elaborada passaram a ter a sua vida regida por ela a partir de quando esta entrou em vigor. Paulo escrevendo sua Segunda Carta a Timóteo, diz:
"Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra" (2 Tm 3.16,17).
Se esse "homem de Deus" representa a Igreja nesse contexto, então quem claramente julga quem?
Quando os apologistas católicos dizem que a Igreja antecede a Bíblia, eles querem dizer que a igreja primitiva era a Igreja Católica, mas como já mostramos, a Igreja Católica não é a Igreja de Jesus. A Igreja Católica é organizacional; a Igreja de Jesus é orgânica. A Igreja Católica tem Pedro como sua pedra e fundamento; a Igreja de Jesus tem Ele próprio como Pedra e fundamento. A Igreja Católica passou a existir oficialmente a partir de 325; a Igreja de Jesus nasceu por volta do ano 30 no dia de Pentecostes e assim vai.
Mas os concílios católicos definiram o cânon da Bíblia
De acordo com o apologista e escritor cristão Norman Geisler, os concílios de Roma (392), Hipona (393) e Cartago (397) não definiram a canonicidade das Escrituras; o que realmente ocorreu foi um reconhecimento, uma ratificação - no caso em questão dos 27 livros do NT. Embora tenha havido de início dúvidas sobre a autenticidade apostólica de alguns deles (caso de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) devido à profusão de apócrifos e dos chamados pseudoepígrafos, fato é que a igreja apostólica e pós-apostólica em sua maioria já aceitava tais escritos como inspirados. Um dos toscos argumentos utilizados, sobretudo, pelo padre Paulo Ricardo em sua apologia à tradição de Roma é que nós protestantes achamos que "a Bíblia caiu de paraquedas do céu, com zíper e tudo...".
Ora, o padre parece que além da vocação sacerdotal tem vocação para comediante...
A Bíblia enquanto registro literário da revelação divina não caiu do céu, mas o seu conteúdo sim (2 Pe 1.21). Assim, ela não precisou de "paraquedas", mas da ação sobrenatural da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a qual o batinado, de certa forma renega, transferindo para um concílio de homens realizado três séculos depois a meritocracia que é do próprio Deus (Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.13).
Realmente a Bíblia não caiu do céu com zíper e tudo, mas a Igreja Romana para ocultar suas heresias, sem zíper, a fechou, para somente no século XVI os protestantes a reabrirem e devolverem-na ao povo.
Como bem observado pelo apologista Lucas Banzoli em seu site "Heresias Católicas", os "concílios" citados de Hipona e Cartago não passaram de sínodos locais sem força ecumênica (não abrangente a toda a igreja universal e nem mesmo foram realizados pela igreja romana, já que se deram no norte da África), por isso não servem como argumento para fundamentar a tese católica de ter sido a Igreja Romana a responsável pela canonização da Bíblia.
Tal pressuposto é um ultraje à soberania do Espírito Santo, pois de acordo com o próprio Senhor Jesus, o Segundo Consolador seria enviado para ensinar, lembrar o que Jesus ensinou, testificar do Filho, guiar a Igreja em toda a verdade, transmitir o que o Pai e o Filho designaram e anunciar o que estava por vir. Somente na enumeração dessas funções está englobada toda a atividade de prover a revelação do que viria a compor o NT. Só que assim como o catolicismo romano, na prática, retira o papel mediativo de Cristo (1 Tm 2.5) e o transfere para seus sacerdotes, ele retira a exclusividade do Espírito Santo como canal da canonicidade e a transfere para a igreja. Isso é uma usurpação blasfema!
A igreja primitiva foi a única a receber evidência de primeira mão e a ser testemunha ocular da autenticidade dos livros do NT, como diz o Dr. Geisler. Ela não causou o cânon, ela foi testemunha da autoridade apostólica que o Espírito Santo confirmou em seu coração. Seria impensável a verdadeira Igreja de Jesus sobreviver três séculos somente do disse-que-disse da tradição católica para então finalmente no IV século ter a confirmação: são só 27 livros que foram inspirados por Deus, mesmo... Seria o mesmo que você passar quatro ou cinco anos cursando uma faculdade sem ter certeza da legitimidade da grade curricular pelo MEC.
A igreja primitiva nunca dependeu de concílios humanos para discernir se um livro do NT era autêntico ou não. Prova disso é que já nos anos 60 do I século, Pedro já reconhecia os escritos de Paulo como Escritura (2 Pe 3.15,16). E não foi preciso nenhum concílio de homens para o apóstolo-pescador chegar a tal conclusão. Então, a estória de que a Igreja Católica foi que definiu o cânon da Bíblia (em especial o do NT) é lorota, engôdo, sofisma, papo-furado, conversa pra boi dormir, ou melhor, ração pra gado. E como os católicos gostam de ser gado! Oh, vida de gado. Povo marcado, eh! Povo feliz! Como diria Zé Ramalho.
A Igreja Católica copiou e guardou a Bíblia...
A Igreja Católica copiou é meia-verdade; que guardou a Bíblia é uma verdade inteira!De fato, muitos monges católicos copiaram as Escrituras, mas se é para dar-se os créditos com justiça, os tais têm de se estender também à Igreja Ortodoxa (o catolicismo oriental grego), pois não houveram monges somente na igreja ocidental. Contudo, é do conhecimento de qualquer aluno do ensino médio que os mosteiros surgiram no início da Idade Média porque muitos clérigos desejavam viver uma vida mais piedosa, o que o chamado clero secular já não oferecia, devido à corrupção moral da igreja estatal. O surgimento dos monastérios foi de certa forma uma ruptura com a igreja oficial, tanto que os tais tinham suas próprias regras sem obedecer efetivamente a bispos e papas. Assim, não é totalmente verdade que a Igreja Católica copiou a Bíblia, pois seus monges que assim fizeram tinham pouca ligação com o clero oficial e, dado os monastérios terem a sua localização fora do âmbito das cidades (em geral, nos desertos), as cópias produzidas por estes quase nunca saíam de lá e muito dificilmente alguém iria até lá consultá-las.
Agora, que Roma guardou as Escrituras e as guardou literalmente ao ponto de proibir sua produção e leitura em 1229, no Concílio de Tolosa, é fato irrefutável! No entanto, sites de apologética católica como o "Cai a Farsa" - com o pretensioso subtítulo de "Desmascarando o Protestantismo" - alega num non sense total que a proibição, na verdade não foi uma proibição, já que não haviam ainda bíblias impressas e a maioria do povo não sabia ler. Se o povo não sabia ler, como a Igreja Católica proibiu a leitura  da Bíblia? Argumentam. Desse modo, o concílio não teria proibido a sua divulgação e leitura, mas a tradução e divulgação em língua vernácula. E a razão para isso foi a heresia dos cátaros ou albigenses, grupo que desprezava a hierarquia e o sacerdócio romano e que por isso foi exterminado pelo sanguinário papa Inocêncio III.
Há, como sempre, armadilhas argumentativas do lado papista. Se é verdade que o povo leigo era iletrado, é verdade também que a igreja romana nunca teve interesse de divulgar a Palavra de Deus aos seus ignaros fiéis. O romanismo dominou o saber medieval e, como se sabe, pesquisando um pouquinho, as bibliotecas estavam ligadas ao monasticismo católico, tanto o ortodoxo quanto - e principalmente - ao romano. Se é um fato que o analfabetismo era uma realidade social daquela época, fato também é que a igreja papal, mesmo com todo o seu poder, prestígio e influência, pouco ou nada fez para reverter esse quadro. Era do interesse do clero e, em especial, dos papas sedentos de poder que o povo assim permanecesse, pois era mais fácil de dominar suas mentes e almas.
Nesse caso da proibição em Tolosa, a fratura exposta deixa ver que a Bíblia era uma peça de decoração na famigerada teologia papista, lida (em latim) somente para dar uma aparência "cristã", por exemplo, à liturgia da missa e da eucaristia, que na verdade tinham sua fonte de prática no velho culto canibalista do mitraísmo. Quer dizer, as Escrituras estavam reservadas mormente ao clero e este no seu suposto direito divino de interpretá-las ocultou suas heresias e desvios aos olhos da plebe.
Porém, como outros grupos anticatólicos como os donatistas, os anabatistas ou os valdenses, os cátaros ousaram interpretar a Bíblia diferentemente do Magistério católico e também pagaram com suas vidas. Estima-se entre 38 e 60 mil mortos e, pasmem, entre eles até padres católicos, pois os 20.000 cavaleiros armados do papa não tinham como discernir quem era quem quando invadiram a cidade. Indagado do papa como seu exército diferenciaria os "hereges", ele cinicamente como todo tirano, respondeu: "Matem todos eles; Deus reconhecerá os Seus.". Seria essa a verdadeira igreja de Jesus? Seria mesmo esse o "substituto" de Cristo na terra?
Todavia, outros sites católicos em defesa da "santa madre igreja" como o Cléofas, dizem que essa proibição foi temporária, regionalizada e não abrangente à igreja universal. Porém o seu proponente, o professor Felipe Aquino, deve ter esquecido de dizer que essas proibições foram constantes como em 1559 por Paulo IV, em 1664 e em 1824 na Encíclica Ubi Primum, na qual o papa Leão XII chama as Sociedades Bíblicas de pestes por divulgarem sem nenhuma censura os Ensinos Sagrados. Ainda assim, algum papista sem-vergonha pode sofismar que a proibição era das edições protestantes na língua comum do povo e não no latim. Ora, isso não deixa de ser uma proibição e uma total desonestidade intelectual da igreja desviada. Se o povo leigo não sabia nem ao menos ler, poderia entender a leitura feita pelos padres numa língua morta como o latim? E se a permissão de Roma concernia somente a Vulgata de Jerônimo, que referenciais a plebe teria se a Bíblia foi escrita originalmente em hebraico e grego? A igreja papista assim desejava pelos motivos já expostos aqui: manter o povo na escuridão e inteiramente cativo aos seus vis ditames.
Mas foram católicos que não só dividiram a Bíblia em capítulos e versículos, mas foram os primeiros que a imprimiram em língua vernácula...
É verdade que o arcebispo da Cantuária (Inglaterra), Stephen Langton foi quem dividiu as Escrituras em capítulos por volta do ano 1226 e que Robert Stienne, um editor e impressor católico de Paris foi quem as dividiu em versículos, em 1551. Entretanto, os apologistas católicos usam esse fato para reforçar a tese de que "a Igreja é mãe da Bíblia", pois não somente definiu o seu cânon como legou aos cristãos (inclusive nós protestantes) a facilidade de lê-la e manuseá-la. Será? Como diriam os jovens hoje "só que não!".
Antes de Langton, os judeus já dividiam o AT em sistemas por eles criados como o Sedarim, o Perashyyot e Pesuquim. No caso do NT houveram tentativas como o Canones Eusabiani, de Eusébio de Cesareia (265-339 d.C.) muito tempo antes do arcebispo católico-romano. Agora, será que o chaveiro que fez a chave da sua casa tem por isso autoridade para entrar nela e fazer o que quiser? Assim, embora Langton tenha sido um sacerdote romano, ele não dividiu a Bíblia em capítulos por determinação da igreja católica, pois esta pouco ou quase nada se importou com as Escrituras. O mesmo se deu com Robert Stienne, apesar de católico-romano. Ao traduzir o NT diretamente do grego, ele acrescentou-o críticas filológicas em notas de rodapé que até contestavam certas interpretações do magistério romano. Mais tarde foi acusado de heresia e foi perseguido pelas autoridades católicas, tendo que fugir de Paris indo se refugiar em Genebra, na Suíça. Embora realmente tenham sido católicos os divisores da Bíblia em capítulos e versículos, quem popularizou e legou ao mundo cristão esse trabalho tão útil para nós hoje em dia foram os "malditos" protestantes. Em 1560, a Bíblia de Genebra, considerada um dos baluartes da Reforma foi publicada e por trazer a divisão em capítulos e versículos propagou essa utilíssima medida para outras versões clássicas como a King James (Versão do Rei Tiago, em inglês), de 1611, e a de João Ferreira de Almeida em português, de 1681.
O mesmo vale para a premissa de que foi a Igreja Católica que publicou pela primeira vez uma bíblia em língua vernácula, a Bíblia em alemão de Johannes Gutemberg, o pai da imprensa moderna, entre 1453 e 1456. Gutemberg publicou a sua bíblia sendo ela um projeto particular e não uma ordem da Igreja Católica; Gutemberg era um gráfico e impressor e não papa, bispo ou padre. É de se ressaltar que a sua obra contribuiu decisivamente para a Renascença, a Revolução Científica e a própria Reforma Protestante que desferiram um golpe mortal no monopólio religioso, cultural e científico do catolicismo romano. O mundo saiu do obscurantismo religioso de Roma e da "Idade das Trevas" graças à propagação da Bíblia, legado do protestantismo e não da Igreja Católica Romana. Se hoje temos a Palavra de Deus em mãos, esse mérito é primeiramente do próprio Deus (1 Pe 1.25) e em segundo dos missionários e baluartes do protestantismo que em sua incansável luta nos legaram a Verdade Que Liberta, Cristo Jesus Nosso Senhor e Salvador! (Jo 8.32).
Fontes usadas por este autor:
Impressas
PERES, Alcides Conejeiro. O Catolicismo Romano Através dos Tempos. Rio de Janeiro: JUERP, 1995.
STEFANO, Gilberto. A Origem: Descrevendo a Histórias dos Batistas, dos Católicos, dos Protestantes e dos Pentecostais. 2ª Edição. Ourinhos: Edições Cristãs: 2006.
Meio eletrônico
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