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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

NICÉIA (325)

NICÉIA (325)

O que foi o 1° Concílio Ecumênico de Nicéia?


No ano de 324 Constantino era o único Senhor do Império Romano. A Igreja estava livre, enfim, das perseguições. Mas foi exatamente então que começaram a surgir problemas dentro da própria Igreja. Em Alexandria, um dos mais notáveis centros da Cristandade, explodira uma disputa teológica entre um padre chamado Ário e seu Bispo. Diz-se até que a disputa foi derivada da mania de discussões teológicas que existia na época... O Bispo Alexandre teria feito uma afirmação e Ário, para chamá-lo à uma discussão, a teria contradito. Daí nasceu um grave impasse teológico pois, em seu desenvolvimento, Ário passara a afirmar que o Logos Encarnado era inferior a Deus Pai e que se o Pai gerou o Filho, então houve uma época em que o Filho não existia.Ário acreditava em Jesus Cristo como o Salvador, mas subordinava o Filho ao Pai. Enfim, negava a divindade de Jesus Cristo, pois afirmava que ele não era igual ao Pai. Desde os tempos apostólicos a Igreja combatia os que pregavam divindades subordinadas a Deus, derivadas das seitas agnósticas. Tudo isso era contra o mistério da Redenção, pois a Redenção, como há tempo fundamentara o diácono Atanásio, não teria sentido se Deus mesmo não tivesse se encarnado, se Jesus Cristo não fosse verdadeiro Deus e verdadeiro homem.Tomando Constantino conhecimento dessa discussão herética e do perigo iminente de cisão na Igreja, promoveu a convocação de um Concílio que se realizou na cidade de Nicéia da Bitínia, próxima de Constantinopla, em 325.Como ficou na história, o Concílio foi um acontecimento impressionante, um dos grandes marcos da vida da Igreja. Acorreram Bispos da Ásia Menor, Palestina, Egito, Síria, e até Bispos de fora do Império Romano, ou seja, de todos os lugares onde a Cristandade tinha se estabelecido com vigor, como a longínqua Índia e a Mesopotâmia, além de delegados da África do Norte. O Papa Silvestre, Bispo de Roma que já estava ancião e impossibilitado de comparecer pessoalmente, mandara dois presbíteros como seus delegados. Estiveram presentes ao Concílio 320 Bispos, mais grande número de presbíteros, diáconos e leigos. Por maioria quase absoluta (apenas dois Bispos não quiseram firmar a resolução final) foi redigido o Credo de Nicéia que confirmava a verdade em que a Cristandade unida, à exceção dos seguidores de Ário, sempre acreditara: Jesus Cristo, Deus Encarnado, é ponto fundamental do Cristianismo. O próprio Credo, a seguir, estabeleceria o conteúdo da fé da Igreja.Destaque-se que Eusébio de Cesaréia e alguns outros pensaram em resolver a questão com uma pequena mudança de grafia na palavra essencial da definição dogmática. Em vez de declarar "homousios" (da mesma substância - consubstancial), propunham usar "homoiusios" (de substância semelhante). Mas este artifício fazia diferença essencial e a Igreja não vacilou.Igualmente, o Credo de Nicéia em nada mudou a fé já confessada pelo Símbolo dos Apóstolos, tradição da Igreja Primitiva (esse Credo que rezamos, normalmente, nas missas de cada dia). O que está no Credo que apresentamos nesta área são apenas definições que resolveram o problema então debatido. Nele foram omitidas aquelas verdades enunciadas pelo Símbolo dos Apóstolos. Posteriormente, no Concílio de Constantinopla (ano de 381), foi redigido um Credo completo adicionando ao Símbolo dos Apóstolos as definições teológicas do Credo de Nicéia. É o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, usado nas missas oficiais e/ou cantadas em Latim.É lamentável que o gosto pelas discussões tenha continuado perturbando a Igreja por muitos anos após o Concílio de Nicéia. Por outro lado, é comovedor constatar - como demonstra a História - como compareceram ao Concílio, em defesa do Deus Humanado, gerações de cristãos que tinham por Ele sofrido perseguições, muitos deles com as marcas das violências sofridas.Oh Igreja Santa e Pecadora!Em Ti nossa alegria supera, incomparavelmente, nossos lamentos,por graça de tua Cabeça, Jesus Cristo!Além desse grave cisma, havia entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente uma divergência de menos importância: a data em que cada uma celebrava a Páscoa. O assunto será resolvido também por este Concílio, que estabelecerá 20 cânones, os quais darão seqüência ao Credo primeiramente apresentado.(Encontrado nas atas dos Concílios Ecumênicos de Éfeso e Calcedônia; na Carta de Eusébio de Cesaréia à sua própria igreja; na Carta de Santo Atanásio ao Imperador Joviniano; nas Histórias Eclesiásticas de Teodoreto e Sócrates e algum outro lugar. As variações no texto são absolutamente sem importância).O Sínodo de Nicéia firmou este Credo:«Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso,criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.E em um só Senhor Jesus Cristo,o Filho de Deus,unigênito do Pai,da substância do Pai;Luz de Luz,Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,gerado, não criado,consubstancial ao Pai;por quem foram criadas todas as coisas que estão no céu ou na terra.O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu (do céu),se encarnou e se fez homem.Padeceu e ao terceiro dia ressuscitou e subiu ao céu.Ele virá novamente para julgar os vivos e os mortos.E (cremos) no Espírito Santo.E quem quer que diga que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia,ou que antes que fosse gerado ele não existia,ou que ele foi criado daquilo que não existia,ou que ele é de uma substância ou essência diferente (do Pai),ou que ele é uma criatura,ou sujeito à mudança ou transformação,todos os que falem assim,são anatematizados pela Igreja Católica e Apostólica.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

MASSADA

MASSADA

A fortaleza de Massada foi o último foco de resistência contra os romanos e caiu em 73 E.C., três anos após Jerusalém. Desde o início do século XX, Massada é considerada um símbolo do heroísmo nacional judaico, exercendo um forte apelo à liberdade e à independência de Israel.


Sua guarnição, constituída por menos de mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, e liderada por Eleazar Ben Yair, resistiu dois anos ao cerco romano, mas foi subjugada pelos 15 mil soldados da X Legião do exército mais poderoso da época. Os judeus que resistiram em Massada preferiram a morte a tornar-se escravos dos romanos e tiraram suas vidas com suas próprias mãos.

Desde o início do século XX, Massada é considerada um símbolo do heroísmo nacional judaico, exercendo um forte apelo à liberdade e à independência de Israel.

A lenda e a história

Nossa única fonte histórica é representada pela obra de Flavius Josephus , “A Guerra dos Judeus”. Este, como os demais historiadores da antigüidade, preocupava-se mais em embelezar e romancear seu relato de que em ser objetivo. Josephus era um judeu romanizado que escrevia para os romanos e queria, portanto, agradar a seu público. Os historiadores modernos concordam que realmente um grupo da seita dos Zelotes mata a si e as suas famílias e ateou fogo em algumas construções de Massada.

Sobre Massada, lenda e história se entrelaçam, e fica difícil distinguir os limites de cada uma.

Josephus moldou a história de Massada baseando-se em sua experiência pessoal, quando presenciou ao suicídio em massa dos rebeldes judeus em luta contra Roma, durante o cerco de Yodfat na Galiléia. Misturando história, tradição e uma fértil imaginação, acabou criando uma lenda que perdura, baseada em fatos reais, de que um grupo de Zelotes que vivia nas montanhas havia jurado nunca ser feito prisioneiro e escravo dos romanos. Seu idealismo tornou-se um símbolo da determinação dos judeus de viver livres em sua terra. Esse apelo tem sua força até os dias de hoje.

É lá que novos recrutas das Forças de Defesa de Israel fazem seu juramento de fidelidade: “Massada não caíra nunca mais”.

É um dos sítios turísticos mais visitados em Israel. Atrai pela sua beleza única de fortaleza no meio do deserto e pela história lendária do seu passado.

Massada, termo que em hebraico significa fortaleza, é situada ao topo de um penhasco rochoso isolado, na extremidade ocidental do deserto de Judéia, olhando para o Mar Morto. Do lado oriental a rocha desce, em queda absoluta, por 450 metros até o Mar Morto (o ponto mais baixo da Terra a 400 metros abaixo do nível do mar) e do lado ocidental, o terreno fica 100 metros acima de toda a área circundante. Portanto, o acesso natural ao penhasco é muito difícil e faz de Massada uma fortaleza virtualmente inexpugnável.

O relato de Flavius Josephus se mostrou bastante preciso. Este, nascido Yossef Ben Matatiahu, de uma família de sacerdotes, era um jovem quando eclodiu a grande revolta judaica contra Roma, em 66 E.C. Nomeado governador da Galiléia, sobreviveu ao pacto de suicídio dos últimos defensores de Yodfat e se rendeu a Vespasiano, que logo depois seria proclamado imperador. Sob o nome de Flavius Josephus tornou-se cidadão romano e historiador de sucesso.

De acordo com Josephus: “Neste topo da colina, Jonathan, o grande sacerdote, construiu uma fortaleza que denominou Massada: depois disso a reconstrução do local foi realizada em grande parte pelo rei Herodes”. (Guerra dos Judeus. Livro VII, capítulo VIII).
O local foi fortificado pela primeira vez por Yochanan, o Macabeu, da dinastia dos Hasmoneus (cerca 143 a.e.c.), mas foi reconstruído pelo rei Herodes entre 37 e 31 a.e.c.. Herodes, um idumeu, foi proclamado rei da Judéia pelos romanos e era odiado pelos judeus. Ele era um construtor primoroso e transformou Massada em cidadela fortificada e refúgio próprio. Construiu dois belos palácios, pesadas muralhas, torres defensivas e um aqueduto que alimentava cisternas com a capacidade de 750.000 litros.

Após a morte de Herodes (4 a.e.c.), Massada foi capturada pelos romanos, mas um grupo de Zelotas, uma seita judaica que se opunha de forma acirrada à dominação romana, a ocupou de surpresa em 66 e.c.. Após a queda de Jerusalém e a destruição do Templo (70 e.c.), juntou-se a este grupo mais um contingente de rebeldes e suas famílias, vindos de Jerusalém. Durante dois anos atacavam os romanos, até que, em 73 e.c., o governador romano Flavius Silva marchou sobre Massada com a X Legião e milhares de prisioneiros de guerra judeus.

Os romanos acamparam na base da fortaleza, sitiaram-na, construíram uma rampa, contra o lado ocidental da fortaleza, com milhares de toneladas de pedras e terra batida e conseguiram fazer uma brecha em sua muralha.

Josephus refere-se dramaticamente à história que lhe foi contada por duas mulheres que sobreviveram. Os defensores, cerca de mil contando mulheres e crianças, liderados por Eleazar Ben Yair, decidiram atear fogo na fortaleza e acabar com suas vidas: “... E assim encontraram (os romanos) um grande número de mortos, mas não puderam ter prazer com isso, mesmo tratando-se de seus inimigos. Nem puderam deixar de se admirar pela coragem, resolução e total desprezo pela morte, demonstrado quando empreenderam uma ação de tal grandeza.”

Os Zelotas sortearam dez homens para matar os outros. Depois escolheram aquele que deveria matar os sobreviventes e, por último, matar-se. Desta forma, somente um cometeu suicídio – não permitido pelo judaísmo.

Depois que caiu em mãos dos romanos, Massada foi sede de uma igreja bizantina nos séculos V e VI. Desde então ficou praticamente abandonada até o século XX.

O local foi sede de intensas escavações arqueológicas, entre 1963 e 1965, realizadas por Ygal Yadin, com a colaboração de centenas de voluntários provenientes de Israel e do mundo todo.

A fortaleza de Herodes e os achados arqueológicos

Situada sobre uma plataforma que mede 600 x 300 metros, é circundada por uma dupla muralha na orla do penhasco, com várias torres. Uma rede de cisternas talhadas na rocha garantia o fornecimento hídrico. O lado norte de Massada era o mais densamente construído, com o centro administrativo, o depósito, uma ampla casa de banhos e moradias para oficiais e suas famílias.

• O palácio residencial do rei Herodes: situada ao norte, a casa privada do rei era elegante e aconchegante. Separada do resto da fortaleza, oferecia segurança e privacidade. Tinha três andares, um de dormitórios e os outros dois para entretenimento e lazer.

• O depósito: duas fileiras de salas abrindo-se para um hall central. Aí se encontrava um grande número de jarros que servia para armazenar óleo, grãos e vinho.

• A grande casa de banhos: servia aos convidados e aos altos oficiais; possuía um caldarium, sala que podia ser aquecida na temperatura desejada graças a um sofisticado sistema de insuflação de ar quente sob o piso e nas paredes.

• O Palácio Ocidental: maior construção de Massada, representava o principal centro administrativo da fortaleza, com o local das cerimônias reais e a sala do trono de Herodes.

• A sinagoga: parte da construção de Herodes serviu também para os judeus que viveram em Massada na época da revolta. É considerada o melhor exemplo de sinagogas antigas, anteriores à destruição do Templo de Jerusalém, em 70 e.c.

• Pequenos objetos: estes em sua maioria são da época dos Zelotes. São utensílios de cerâmica ou pedra, armas, restos de tecidos e muitas moedas de bronze e de prata. Os shekalim da época da revolta, cobrindo todos os anos desde o ano 1 (66 e.c.) até o raro ano 5 (70 e.c.), estavam em perfeito estado de conservação. Foram encontrados também 11 fragmentos, cada um com um nome, um deles Ben-Yair. Talvez fosse o nome dos que foram escolhidos para matar os outros e depois se matar. De acordo com o relato de Josephus Flavius, os zelotes queimaram tudo antes de morrer, menos os recipientes com os alimentos, para mostrar aos romanos que não fora o desespero da fome o que os levara ao gesto suicida.
Muitos líderes israelenses, entre eles até Ben Gurion, chegaram a questionar o valor político de um episódio que acabava em suicídio, símbolo de uma resistência sem esperança.

Escreveu-se mais sobre o assunto nos últimos 100 anos do que nos 2000 anteriores. Talvez porque Massada tenha acabado em morte, devido a uma situação sem saída, enquanto que o judaísmo é uma religião de constante afirmação de vida.

A alternativa mais propriamente judaica para “Massada” foi encontrada pelo sábio Yochanan Ben-Zakai, que saiu de Jerusalém sitiada para fundar a academia de Yavne, construindo uma casa de estudos e de rezas que daria continuidade ao judaísmo.

Mesmo assim, o que deve nos ensinar em Massada é o princípio da independência nacional e da liberdade, não o do desespero e da morte.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Israel - 70 Anos

Israel - 70 Anos

por Zevi Ghivelder
Queiram os historiadores ou não; queiram os acadêmicos ou não; queiram os cientistas políticos, analistas, jornalistas e intelectuais ou não; queiram os antissemitas ou não; queiram os antissionistas ou não, mas o ressurgimento de um Estado Judeu em sua terra de origem foi um dos mais extraordinários acontecimentos históricos de todos os tempos.


O parágrafo acima não é uma calorosa exaltação em busca de aplauso, mas o rigor de uma sóbria verdade. Agora, quando o Estado Israel celebra os primeiros 70 anos de sua soberania, identificado com judeus mundo afora, deve-se tecer uma importante consideração. De todos os países que foram criados no planeta depois da 2ª Guerra Mundial, nenhum deles, nenhum mesmo, com pouco mais ou pouco menos de 70 anos de existência, alcançou como Israel um nível tão elevado na economia, na infraestrutura civil e militar, em múltiplas ciências, na tecnologia e na informática, nas artes e na cultura, na igualdade de gêneros, no bem-estar social e na prática da democracia.
Conforme se procede em toda sólida construção, a recriação do Estado Judeu contou com fundações e pilares, sendo estes constituídos por ações individuais e coletivas. A primeira fundação para o erguimento da morada ancestral do povo judeu foi fixada em agosto de 1897 quando da realização do Primeiro Congresso Mundial Sionista, na Suíça, sob a liderança de Theodor Herzl. A segunda fundação corresponde à emissão pelo império britânico da Declaração Balfour, de mais de cem anos atrás. Trata-se de uma carta elevada à condição de documento, tanto assertiva quanto evasiva, mas que causou impacto por dar legitimidade ao incipiente movimento sionista e, assim, promover a sua inserção no cenário internacional. Por isso até hoje suscita polêmicas, quase sempre redundantes. A terceira fundação se assentou na declaração também centenária, da partilha da antiga Palestina, em 1947, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Mas, nessa crucial etapa ocorreu uma ainda irreparável fissura. Os países árabes rejeitaram a resolução. Impediram que os palestinos residentes no território que lhes caberia criassem seu próprio estado independente e, dessa maneira, deram origem ao conflito que há 70 anos perdura entre eles e Israel.
Nos pilares individuais avulta um homem excepcional e inigualável: Eliezer Ben Yehuda. Nascido Eliezer Perelman, na Lituânia, em 1858, ele foi o artífice do renascimento do idioma hebraico, naquele tempo restrito aos rituais litúrgicos. Sionista ardente desde a juventude, formulou um conceito tão simples quanto imbatível: se o sionismo de fato viesse a resultar numa nova nação judaica, era imperativo que incorporasse à sua ideologia um novo idioma, ou seja, o hebraico, antigo idioma dos patriarcas, profetas e reis do povo de Israel. Com vinte anos de idade, Ben Yehuda foi para Paris com a finalidade de estudar medicina. Porém, contraiu tuberculose e foi obrigado a abandonar a faculdade, ao mesmo tempo em que se juntou a um grupo de jovens sionistas. Ao lado deles e junto com a mulher partiu para a antiga Palestina em 1881. Instalou-se em Jerusalém e em sua casa só se falava hebraico. Seu filho, mais tarde o escritor Itamar Ben Avi, foi a primeira criança daquela época a ter o hebraico como idioma materno, fora poucos descendentes de antigas gerações de judeus que jamais emigraram da Terra Santa. Ao lado de outros intelectuais, Ben Yehuda fundou uma sociedade chamada Tehiat Israel (Renascimento de Israel) cujo ideário tinha uma consistente visão do futuro para a nova nação: expansão das atividades agrícolas, expansão da população produtiva, criação de raízes literárias a partir do ressurgimento do idioma hebraico, estímulo às pesquisas científicas e uma postura política tão nacional quanto universal. Ele começou a trabalhar na elaboração de um dicionário hebraico, mas foi expulso de Jerusalém pelas autoridades turcas, como um “inimigo nacional”, ao eclodir a 1ª Guerra Mundial.
Passou um ano nos Estados Unidos e regressou à Palestina em 1919. Participou, então, da criação da Academia da Língua Hebraica destinada a formular palavras em hebraico que se adaptassem às modernidades do cotidiano. No ano seguinte avistou-se com Sir Herbert Samuel, Alto Comissário britânico para a Palestina, convencendo-o de que a Palestina deveria adotar três línguas oficiais: inglês, árabe e hebraico. Essa proposta consumou-se num decreto dois anos depois. Nesse tempo Ben Yehuda trabalhava dezoito horas por dia em seu “Dicionário de Hebraico Antigo e Moderno” que foi concluído por sua viúva e seus filhos, sendo publicado em 1959 com um total de 17 volumes. No prefácio do dicionário, escreveu: “É como se os céus se tivessem subitamente aberto; uma luz brilhou perante meus olhos e uma poderosa voz interior me disse que haveria uma nova língua numa nova pátria”. Sua obsessão frutificou após cerca de 30 anos, chegando ao ápice de S.Y. Agnon, escritor no idioma hebraico, ter sido agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1966. Eliezer Ben Yehuda faleceu no dia 16 de dezembro de 1922, em Jerusalém.
Um dos pilares coletivos da recriação de Israel tem como protagonista o ishuv, ou seja, os judeus que se radicaram em Eretz Israel (Terra de Israel) ou ali nasceram durante a ocupação otomana ou no Mandato Britânico, e antigos residentes. Um relatório publicado pela autoridade imperial inglesa, datado de 1922, é da maior relevância: “Durante as últimas duas ou três gerações os judeus criaram uma comunidade composta por 80 mil habitantes, dos quais um quarto se dedica às atividades agrícolas. Esta comunidade tem suas próprias instituições: uma assembleia que trata dos assuntos internos; conselhos eleitos em quase todas as cidades; um Rabino Chefe incumbido das questões religiosas junto com conselhos rabínicos regionais; um órgão controlador das escolas; os negócios são conduzidos no idioma hebraico; há veículos de imprensa no mesmo idioma e um intenso movimento intelectual. A atividade econômica desta comunidade é crescente”.
ishuv se dividia informalmente em duas entidades que atuavam em conjunto. De um lado, os responsáveis eleitos para a administração pública com a tarefa de preservar e ampliar a ordem social e econômica. De outro, a Organização Sionista inserida no âmbito da Agência Judaica, oficialmente reconhecida pelos mandatários como a única representante dos judeus da Palestina. Ambas tinham como objetivo o renascimento da nação judaica. Na verdade, naquela quadra dos acontecimentos, os judeus já sedimentavam a estrutura de um país mesmo sem possuir um país. O ishuv se configurava como uma democracia parlamentar, abrigando uma assembleia nacional eleita para um mandato de quatro anos. Essa eleição estendeu o direito de voto às mulheres, uma raridade no mundo da segunda década do século 20. Havia também um poder executivo e um sistema judiciário.
Este surpreendente cenário de organização social e econômica continha radicais controvérsias políticas que, de forma esquemática, podem ser rotuladas como esquerda, centro e direita, a par de um bloco religioso. Essas controvérsias permaneceram até a recriação de Israel e se desenvolvem até os dias atuais nos mesmos formatos e intensidade. Dentre os legados do ishuv,um dos mais importantes é a fundação, em 1920, da Histadrut, a Federação dos Trabalhadores Judeus da Palestina, depois dos Trabalhadores de Israel. Com quase cem anos de idade é uma das organizações sindicais mais bem-sucedidas do mundo em função da abrangência de suas atividades. 
Outro pilar coletivo muito importante corresponde à equipe de agentes do ishuv que ocupou diversos aposentos de um hotel situado no número 60 da rua 14 Leste, em Nova York. Era um grupo de rapazes empenhados na tarefa de comprar armas e munições para o estado que seria criado. Contido, tratava-se uma operação secreta, obrigada a despistar o FBI, porque a legislação americana aceitava vender equipamentos excedentes da 2ª Guerra Mundial, porém proibia que fossem destinados a quaisquer outros países. Entre sustos sofridos por causa da vigilância das autoridades americanas e missões bem finalizadas, a ação desses agentes do “Hotel 14”, conforme chamavam seu quartel-general, foi fundamental para abastecer o futuro exército de Israel. A par do que ocorria em Nova York, um homem extraordinário, chamado Al (Adolf) Schwimmer, agia na Califórnia. Nascido no Brooklyn, Nova York, em 1917, foi piloto da Força Aérea dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial. Judeu convicto, procurou por iniciativa própria o pessoal do “Hotel 14”.
Custou a ganhar a confiança dos agentes até conseguir convencê-los de que o novo país não teria chance alguma de combater os árabes se não contasse com um mínimo de capacidade militar no ar. Foi mandado para a Califórnia onde, após artimanhas e superando complicadas burocracias, comprou antigos aviões de diversos portes. Em seguida, recrutou um grupo de pilotos judeus, também veteranos de guerra, e cumpriu a proeza, contrariando as leis americanas, de fazê-los voar primeiro para o México, uma escala no Panamá, outra escala e reabastecimento no aeroporo de Natal, no Brasil, novos reabastecimentos na África e na Europa, até concluir a viagem em Lidda, perto de Tel Aviv.
A ação de Schwimmer resultou nos primórdios da Força Aérea de Israel, que cumpriu missões decisivas para assegurar a vitória judaica na Guerra da Independência, com destaque para uma delas, em julho de 1948, quando os pilotos de Schwimmer dizimaram uma coluna de blindados egípcios que se aproximava de Tel Aviv.
Al Schwimmer regressou para os Estados Unidos no ano seguinte. Foi acusado como transgressor do Ato de Neutralidade Americano, por ter contrabandeado aeronaves para fora do país. Teve cassado seu direito de voto, dos benefícios como veterano de guerra e condenado a pagar uma multa de 10 mil dólares, mas sem pena de prisão. Sugeriram-lhe que tudo seria relevado se pedisse um perdão oficial ao presidente. Ele se recusou. Disse que, como judeu, ajudar a criação do Estado de Israel era uma obrigação moral; quanto ao contrabando, argumentou que se tratava de uma desobediência civil também baseada em princípios morais. Em 1950, voltou para Israel atendendo a um chamado de Ben Gurion que o incumbiu de instalar a Israel Aerospace Industries (Indústrias Aeroespaciais de Israel), até hoje uma referência mundial nessa modalidade. Schwimmer foi o diretor-executivo desta empresa durante meio século e, nos anos 1980, atuou como conselheiro industrial e de tecnologia do primeiro-ministro Shimon Peres de quem se tornou íntimo amigo. Em 2001, recebeu um perdão oficial do presidente Bill Clinton e, em 2006, o prestigioso Prêmio Israel. Faleceu em 2011, aos 94 anos de idade, em sua residência em Ramat Gan. Se a expressão “pai da pátria” deixar seu conceito abstrato e buscar um exemplo concreto, há de encontrá-lo de sobra na figura de Al Schwimmer.
No dia 13 de maio de 1948, Ben Gurion estava reunido em Tel Aviv com seu Estado Maior, o Conselho responsável pelos destinos do futuro país. Seus integrantes estavam acabrunhados por causa do massacre sofrido pela população judaica da localidade de Etzion. Ben Gurion, entretanto, foi enfático: “A catástrofe de Etzion não me abala. Eu já esperava derrotas e receio que ainda enfrentaremos maiores dificuldades. Tudo mudará quando conseguirmos derrotar a maior parte da Legião Árabe. É pelas armas que resolveremos todos os problemas”. Parecia um exagero, mas aquelas palavras empolgaram o Conselho, pessimista em face da evidente fragilidade da força militar com que contavam. Em seguida surgiram indagações cruciais. Onde e como proclamar a independência? No palco e plateia do Teatro Habima ou no Museu de Tel Aviv? Alguém disse que embora o Habima fosse maior, o local oferecia pouco sigilo e pouca segurança. Optou-se pelo Museu. Mas, qual seria o nome do país? Como seria redigida a declaração de independência? Alguns membros do Conselho propuseram Estado Judeu. Outros, simplesmente Sion. Até que houve consenso: Israel. Seguiu-se outro debate: como incluir as fronteiras do novo país na declaração, já que estas ainda estavam indefinidas? Mais uma vez prevaleceu a voz de Ben Gurion: “Leiam a declaração de independência dos Estados Unidos. Verão que nela não há uma só alusão a fronteiras territoriais. Depois que derrotarmos os árabes poderemos precisar nossas fronteiras”. Na votação referente à questão das fronteiras, cinco conselheiros foram contra a definição, quatro a favor e quatro se abstiveram. A reunião terminou de madrugada, ficando decidido que um pequeno grupo, liderado por Moshe Sharret, se encarregaria de redigir a declaração.
Neste mesmo dia 13 de maio, enquanto os mandatários ingleses fechavam suas bagagens para uma viagem sem retorno, a população de Tel Aviv era uma só ansiedade por conta das expectativas desdobradas nas semanas recentes e sem saber como, quando e aonde começariam os preparativos para o histórico evento da proclamação da independência. Sabia-se, tão somente, que aconteceria assim que o último militar inglês deixasse o porto de Haifa. Havia um grande sentimento de pressa por causa de um prazo fatal: o Shabat (sábado sagrado) no entardecer do dia seguinte.
Os convites para a cerimônia começaram a ser distribuídos por mensageiros na manhã do dia 14, sendo endereçados a entidades e instituições, sem menção a pessoas: “Temos a honra de convidá-lo para assistir à cerimônia da declaração de Independência que será realizada no dia 5 de Yiar de 5708 (14 de maio de 1948), às 16 horas, no salão do Museu de Tel Aviv, Boulevard Rothschild, número 16. Pedimos que mantenha em sigilo o conteúdo deste convite quanto à hora e ao local. Os convidados deverão estar no Museu às três e meia da tarde. Atenciosamente, o Secretariado. Este convite é pessoal. Traje: social escuro”.
O secretariado era na verdade um só secretário, Zeev Sharef, diretor administrativo da Agência Judaica. Em condições normais o convite deveria ser assinado por Ben Gurion, mas o tempo era exíguo. Ben Gurion não gostou do texto que lhe foi submetido pelo grupo de Sharret. Achou que aquele primeiro rascunho se perdia em excessos de diplomacia e ele preferia algo mais contundente, mais conciso e mais objetivo. Fez as alterações que julgou necessárias e mandou o texto para Zeev Sharef, recomendando que fosse feito um bom número de cópias para serem posteriormente entregues à mídia. Mas, não era possível guardar um segredo de tal magnitude. Os jornais matutinos do dia 14 publicaram que a Kol Israel, emissora oficial de rádio, transmitiria a sessão da independência ao vivo, às quatro da tarde. A polícia começou a isolar a cercania do Museu uma hora antes. Isto serviu para atrair a curiosidade da população que ali logo começou a se aglomerar.
De manhã cedo, Sharef havia convocado o designer Abraham Rifkind que, dois anos antes, tinha preparado um salão na Basiléia para a realização do 22o Congresso Mundial Sionista. Rifkind revelou numa entrevista, anos depois, que a sua primeira ideia era que a declaração fosse escrita num rolo de pergaminho, tal como a Torá. Para isso buscou um escriba na comunidade ortodoxa de B’nei Barak, mas este declinou, dizendo que não daria tempo de terminar até as quatro da tarde porque cada vez que escrevesse o nome de D’us seria obrigado a cumprir o ritual de se levantar e lavar as mãos. Em seguida, Rifkind chamou um artista plástico seu amigo, deu-lhe uma sofrida quantia em dinheiro, para que ele comprasse os materiais e elaborasse adereços condizentes com a solenidade que aconteceria no salão do Museu. Recomendou que o amigo não comprasse tudo numa só loja, para não levantar suspeitas. No Museu os funcionários foram dispensados com ordem para regressarem às 15 horas, sem terem a menor noção do que iria acontecer. No salão, o artista contratado trabalhava com um carpinteiro, um pintor e também decorador, uma costureira e uma faxineira para polir o assoalho. De início, mandou fazer bandeiras de diversos tamanhos. Eram panos brancos com duas linhas paralelas em azul e, no meio, uma estrela de David da mesma cor. Não eram bandeiras oficiais porque a verdadeira só foi adotada pelo governo em outubro do mesmo ano. Aquelas ali confeccionadas se destinavam a cobrir esculturas e pinturas com nus artísticos, pouco apropriados para o local e para a ocasião. Enquanto isso, Rifkind procurava um pergaminho no qual seria escrita a declaração e uma fotografia de Herzl que deveria ser colocada acima da mesa principal. Encontrou numa loja da Rua Dizengoff, onde encontrou um papel sintético, tipo pergaminho, que parecia genuíno e deu-se ao preciosismo de levá-lo para análise no Instituto de Padrões. Só sossegou quando lhe garantiram que o papel poderia durar alguns séculos. Obteve fotografias em tamanho pequeno de Herzl e a maior de todas, em bom estado, carecia no seu entender de imponência. Assim, mandou fazer uma grande molduranegra de modo a aumentar a percepção visual da fotografia.
O pergaminho contendo o texto da declaração estava nas mãos de Sharef no escritório da entidade Keren Kayemet, em Tel Aviv, de onde ele providenciava táxis para os líderes sionistas que deveriam comparecer à cerimônia. Só se esqueceu dele mesmo e da mulher que o acompanhava.
Os dois ficaram isolados no meio de uma rua e sem a menor chance de obter uma condução. Aflito, procurou um policial e pediu-lhe que parasse um táxi. Um motorista obedeceu, mas se recusou a transportar o casal: “Desculpe, mas eu tenho que estar em casa às quatro horas para ouvir no rádio a declaração da Independência”. Ao que Sharef respondeu: “Se você não nos levar até o Museu não vai ouvir nada porque a declaração está aqui comigo”. O taxista partiu em disparada e, como sempre, nessas horas os contratempos se acumulam. Por causa do excesso de velocidade, um policial mandou o táxi parar e já ia aplicar a multa quando Sharef se deu conta da poderosa realidade que Eretz Israel estava vivendo naquele momento: “Os ingleses foram embora e aqui ainda não há um governo. Quem vai cobrar essa multa?”
Pouco antes das quatro da tarde, dezenas de automóveis começaram a afluir ao Museu, com prioridade para os signatários da declaração, entregue por Sharef a Ben Gurion, o último a chegar, acompanhado da mulher, Paula. Mostrava impetuoso vigor a caminho de 62 aos de idade, a serem completados em outubro. Foi saudado por aplausos das pessoas junto ao Museu. Por causa do sol forte e dos flashes dos fotógrafos, Paula tropeçou na escada e caiu, machucando a vista. Por isso passou todo o tempo da cerimônia com um copo de água gelada na mão e nele mergulhando um lenço que, em seguida, levava ao olho direito. Às 16 horas em ponto, Ben Gurion começou a ler a declaração. Foram 17 minutos no decorrer dos quais leu 979 palavras no idioma hebraico. Em seguida, chamou o rabino Yehuda Fishman, de 74 anos, trazido de Jerusalém para Tel Aviv, num pequeno avião, porque a estrada entre as duas cidades já estava bloqueada pelo exército da Jordânia. O rabino recitou, embargado pela emoção: “Bendito seja D’us, Rei do Universo, que nos manteve, nos conduziu e nos trouxe até este dia”.
Finda a oração, Ben Gurion anunciou o primeiro decreto que seria emitido pelo novo país: estava anulado o White Paper, o documento de 1939 que impedia a entrada de judeus na sua própria terra. Tinha acabado de renascer, com plena soberania, o Estado de Israel, pátria dos judeus. As manifestações de júbilo exalavam por todo o país, mas Ben Gurion sequer sorria. Avaliava o débil potencial militar de que a nova nação dispunha e cedia ao pessimismo. À noite, em casa, disse para Paula: “Sou um consternado entre os exultantes”.
Em seus 70 anos de vida, entre conflitos menores e nem por isso desprezíveis, Israel enfrentou duas grandes guerras que traumatizaram o país: a dos Seis Dias, em 1967, e a do Yom Kipur, em 1973. Sobre a Guerra dos Seis Dias circulam dezenas de livros e milhares de ensaios, entrevistas e reportagens. Há uma corrente de analistas, jornalistas e escritores que sustentam que este conflito mudou o perfil sociológico do país, na medida em que os israelenses tomados pela euforia da vitória em três frentes de batalhas e em tão pouco tempo, passaram a se superestimar e até mesmo a cultivar arrogância. É pouca verdade.
Cheguei a Israel no sétimo dia da guerra, no primeiro voo que partiu de Paris para Tel Aviv. Presenciei, sim, grandes manifestações de alegria dos soldados que voltavam para suas casas nos mais diversos veículos militares. Vi bandeiras de Israel ornamentando fachadas, janelas e varandas em Tel Aviv e Jerusalém. Porém, também vi os jornais com dezenas de páginas de anúncios fúnebres, nos quais mulheres choravam as mortes de maridos, pais choravam as mortes de filhos e filhos choravam as mortes de pais. Vi, também, o país inteiro angustiado com o pidion shvuim, o resgate dos prisioneiros de guerra. O povo judeu de Israel não havia perdido seu senso de humanidade e solidariedade.
Fiz a cobertura jornalística da Guerra do Yom Kipur, que praticamente acompanhei desde o início, tendo permanecido, então, 40 dias em Israel. Como Ariel Sharon, general de carreira e depois primeiro-ministro, ainda é uma personalidade controvertida, as paixões ideológicas, tanto dentro como fora de Israel, relutam em conferir-lhe o papel vital que ele desempenhou naquele conflito. Não é exagero afirmar que Sharon salvou Israel de uma catástrofe, quando atravessou com suas tropas o canal de Suez e se posicionou na direção do Cairo depois de capturar a cidade egípcia de Suez. Aquele foi o momento de maior perigo vivido pelo Estado de Israel desde a sua fundação.
A propósito da travessia do canal de Suez, tomei conhecimento dessa audaciosa manobra militar através do porta-voz do exército com o qual mantinha bom relacionamento. Ele me disse que não divulgaria a notícia de imediato porque ainda lhe faltavam dados mais precisos e deu-me um conselho: “Vá até o Hospital Hadassah, em Jerusalém, para onde foram levados soldados feridos na travessia. Conversando com eles, você terá uma boa ideia de como tudo aconteceu”. Na mesma hora rumei para o Hadassah, onde fui recebido pelo diretor de relações públicas que me abriu todas as portas para as entrevistas que precisava fazer. Eu já estava para ir embora, por volta de seis horas da tarde, com pressa para escrever a matéria, quando aquele funcionário me parou: “Espere um pouco porque o Danny Kaye está vindo aqui para entreter os soldados”. O grande comediante e astro do cinema chegou visivelmente cansado porque já tinha estado em outros hospitais, de norte a sul do país, cumprindo a missão voluntária de levantar o moral dos militares fora de combate. Minha adolescência tinha sido enriquecida pelos filmes estrelados por Danny Kaye (verdadeiro nome Daniel Kaminsky nascido no Brooklyn em 1911) e foi emocionado que apertei sua mão. Passei a percorrer o hospital ao seu lado. Ele parava junto a um leito onde havia um soldado ferido e dizia: “Vou falar com teu médico para te mandar para casa depois de amanhã”. Ou então, para outro: “Quando você tirar essa bandagem da cara vai ficar irresistível”. Até que paramos junto a um leito no qual estava deitado um rapaz de uns vinte anos, sem o braço direito e sem a metade da perna esquerda. No primeiro momento, era uma visão tão dolorosa, que o Danny Kaye não soube o que dizer. Foi o jovem quem falou: “Danny Kaye, que grande surpresa! Você é um artista que eu adoro! Desculpe, mas sou obrigado a lhe dar a mão esquerda”.
Zevi Ghivelder é escritor e jornalista

Mar Morto ou Mar de Sal, Maravilha da Natureza

Mar Morto ou Mar de Sal, Maravilha da Natureza

Considerado uma das sete maravilhas naturais do mundo e um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de turistas por ano, a importância do Mar Morto, em hebraico, Yam Hamelach, literalmente Mar de Sal, remonta à Antiguidade bíblica. Relatos na Torá, nas obras de Flávio Josefo e de outros, assim como as ruínas arqueológicas em seu entorno, revelam a importância da região desde tempos remotos.

Cercado pelas montanhas da Judeia, a oeste, e pelas montanhas de Moab, a leste; pelo Vale do Jordão e pelo Kineret, ao norte; pelo deserto do Neguev e pelo Mar Vermelho, ao sul, avista-se o Mar Morto. Localizado a 400 metros abaixo do nível do mar, possui a maior densidade salina - suas águas contêm 33% de sal -, quantidade 10 vezes superior à encontrada no Mar Mediterrâneo, e não permite nenhum tipo de vida entre suas águas. É justamente esta densidade que não permite que objetos ou pessoas afundem em suas águas.
O nome Mar Morto somente surgiu após o advento do Cristianismo. Foi atribuído pelos monges cristãos, pelo espanto causado pela aparente ausência de qualquer forma de vida em suas águas.
Na Antiguidade, foi também chamado de Hayam Hacadmoni, o Antigo Mar; Yamá shel Sdom, Mar de Sodoma; e, ainda, Yam Ha’aravá, Mar do vale do Aravá. Em suas obras, o já citado Flávio Josefo localiza o Mar Morto nas proximidades da antiga cidade bíblica de Sodoma, mas refere-se às suas águas por seu nome grego: Asfaltite.
História e relato bíblico
Há mais de 4 mil anos, existiram um dia, ao sul do Mar Morto, as cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas, de acordo com o relato bíblico, por D’us, por sua perversão e decadência moral.
As referências bíblicas à Sodoma (Sdom, em hebraico) encontram-se, principalmente, no livro Gênesis e sua destruição é relatada nos capítulos 18-19. Mas, é também citada em Deuteronômio, no Livro de Jó e no Talmud, assim como por nossos profetas.
De acordo com o texto bíblico, após ter ouvido o “clamor” das vítimas das iniquidades cometidas pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, D’us determina a destruição dessas cidades. Nosso patriarca Abraão tenta intervir e D’us lhe promete que, se houvesse dez Justos, salvaria Sodoma. Mas na cidade não havia um Justo sequer e seu destino é selado. Apenas Lot, sobrinho de Abraão, e sua família, serão poupados, pois ele ainda guardava em si o espírito da hospitalidade que aprendera com nosso patriarca.
Os anjos enviados por D’us para destruir Sodoma ordenaram que Lot, juntamente com toda a sua família, deixasse a cidade imediatamente, alertando: “Sequer olhem para trás”. Assim que eles partem, D’us faz chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. Não obedecendo às ordens dos anjos, a mulher de Lot se vira para olhar e é transformada em estátua de sal. De acordo com o Talmud, este sal chama-se Melach Sedomit, sal sodômico. Josefo, em sua obra, afirma que durante a sua vida, o pilar de sal ainda podia ser visto.
Uma chuva de sal completa a catástrofe (Deut. 29:22). Na planície queimada por enxofre e sal, a terra tornara-se estéril, sendo que lá “nada podia ser plantado e nenhuma vida brotaria” (Deut. 29:22). Quando a devastação se completou, surge um enorme lago de sal e betume, que se espalha a leste do deserto de Judá, e é conhecido em hebraico como Yam Hamelach, o mar de sal.
A exploração econômica da região já se iniciara desde o tempo dos nabateus. Outros habitantes da região também descobriram o valor das matérias-primas naturais que subiam à superfície, principalmente glóbulos de betume ou asfalto1 que eram então recolhidos em cestos. Os nabateus vendiam betume aos egípcios, que o utilizavam para embalsamar seus mortos. Este comércio se estendeu até a era romana. Os romanos chamavam a região de “Palus Asphaltites” (Lago de Asfalto).
Durante séculos o Mar Morto foi uma importante rota de comércio marítimo para navios que transportavam sal, asfalto e produtos agrícolas. São vários os portos em suas duas margens, incluindo-se os povoados de Ein Gedi, Khirbet Mazin (onde estão as ruínas da época dos hasmoneus), Numeira e Massada.
Na margem ocidental do Mar Morto, Herodes, o Grande, que governou a Judeia de 37 A.E.C. a 4 A.E.C., além de reconstruir o Segundo Templo em Jerusalém, construiu ou reconstruiu inúmeras fortalezas e palácios, sendo Massada a mais famosa. Massada foi erguida para ser uma fortaleza inexpugnável, pois em seu lado oriental a rocha desce, em queda absoluta, por 450 metros até o Mar Morto. A fortaleza estava desde 66 E.C. nas mãos dos zelotas, uma seita judaica que se opunha de forma acirrada à dominação romana. Em 70 tornou-se refúgio de outro grupo de zelotas e suas famílias. Liderados por Eleazar Ben-Yair, eles haviam sobrevivido à destruição de Jerusalém e do Segundo Templo pelos exércitos romanos. Trancados em Massada, os judeus passaram a atacar os romanos e conseguiram fazer frente ao inimigo até que, em 73, o governador romano Flavius Silva marchou sobre Massada com a 10ª Legião. Quando os romanos conseguiram tomar a fortaleza, encontraram seus 960 habitantes mortos – os judeus tinham optado pelo suicídio à rendição.
Outro marco importante na região é a fortaleza de Macários, originalmente construída pelo rei hasmoneu Alexander Jannaeus, em meados do ano 90 A. E.C.
Várias seitas de judeus estabeleceram-se no alto das margens do Mar Morto, sendo a mais conhecida a dos essênios de Qumran, a cerca de 2 km da margem noroeste do Mar Morto (atual Samaria). No final da década de 1940 e início de 1950, lá foram encontrados centenas de documentos e fragmentos de textos datados do período entre 150 A.E.C. e 70 da Era Comum que se tornaram conhecidos como os Pergaminhos do Mar Morto.
A cidade de Ein Gedi, mencionada inúmeras vezes na oração de Minchá, era rica na produção de caquis que eram usados para fabricar as fragrâncias utilizadas no serviço do Templo Sagrado de Jerusalém, usando uma receita secreta.
No século 19, o Rio Jordão e o Mar Morto foram explorados por várias expedições marítimas, tendo sido a primeira realizada em 1835 por Christopher Costigan, seguida pela de Thomas Howard Molyneux, em 1847, William Francis Lynch, em 1848, e John MacGregor, em 1869. Charles Leonard Irby e James Mangles viajaram ao longo das margens do Mar Morto em 1817 e 1818, mas não navegaram em suas águas.
A diversidade mineral da região e seu clima começaram a atrair cientistas e pesquisadores a partir de 1971.
Indústria e turismo
A riqueza mineral das águas e areias, aliadas a seu clima – são cerca de 330 dias de sol por ano – fazem da região do Mar Morto um local atraente para turistas o ano inteiro, principalmente europeus, durante o inverno. É considerado atualmente um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de visitantes por ano. Hotéis de lazer proliferam na área, explorando não apenas as opções do chamado “turismo-saúde”, mas também as belezas naturais do deserto da Judeia, ideais para passeios de buggies e camelos, além de caminhadas em trilhas. Inicialmente construídos nas proximidades de Arad, os complexos hoteleiros – são mais de 20 hotéis de padrão internacional – concentram-se atualmente na área denominada Ein Bokek.
Além de muito sal, o Mar Morto possui também 21 tipos de minerais, entre os quais magnésio, cálcio e potássio – dos quais 12 não são encontrados em outras águas do mundo. A composição singular do mar já gerou inúmeros estudos científicos que comprovam que suas substâncias ativam o sistema circulatório, aliviam o reumatismo e atenuam a psoríase. Em seu redor, espalham-se montanhas de sal naturalmente esculpidas em forma de chaminés e cavernas. Entre estas, pode-se distinguir perfeitamente uma escultura em forma de cogumelo, que, segundo antigas tradições, seria a estátua da mulher de Lot.
A lama negra, composta por minerais do mar, também possui efeitos benéficos cientificamente comprovados para a saúde, que levaram ao desenvolvimento de uma próspera indústria cosmética cuja matéria-prima básica é extraída do mar e das areias. Para melhor conhecer seus segredos, foi fundado em 1992 o Centro de Pesquisa Médica do Mar Morto, que atua em parceria com hospitais e instituições acadêmicas de Israel.
O potencial mineral do Mar Morto, considerado por especialistas um depósito natural de potássio e bromo, entre outros, levou ao desenvolvimento de uma indústria química altamente lucrativa. Desde a instalação da Palestinian Potash Company, em 1929, primeira fábrica na margem norte do Mar, muitas outras surgiram. Em 1952 foi fundada a The Dead Sea Works, então estatal e remanescente da empresa de 1929. Em 1995, essa empresa foi privatizada e pertence atualmente à Israel Chemicals. A região produz milhões de toneladas de potássio, milhares de toneladas de bromo, soda cáustica e metal de magnésio, além de cloreto de sódio. As indústrias geram cerca de US$ 4 bilhões anuais pela venda de minerais extraídos do Mar Morto, principalmente potássio e bromo.
Mar ameaçado
Mas o Mar Morto está desaparecendo, segundo especialistas, em decorrência das altas temperaturas (média de 30o durante o inverno e 40o no verão) e do baixo índice de umidade, tornando o ar extremamente seco, além das atividades extrativistas. Imagens áreas feitas recentemente comprovam a evaporação do mar. Para tentar reverter este processo, a margem sul está sendo alimentada por um canal construído e mantido pela The Dead Sea Works.
Em uma conferência regional em 2009, especialistas e ambientalistas expressaram sua preocupação com a diminuição do nível da água, sugerindo até que as atividades ao redor do Mar Morto fossem reduzidas, incluindo a atividade agrícola. Em dezembro de 2013, Israel, Jordânia e Autoridade Palestina assinaram um acordo para implantar um aqueduto ligando o Mar Vermelho ao Mar Morto, com 180 km de comprimento e previsão de inauguração em cinco anos, o que acabou não acontecendo.
Em janeiro deste ano (2019), porém, o Ministério de Cooperação Regional de Israel anunciou a disposição do país em retomar o projeto que levaria água do Mar Vermelho para uma central de dessalinização, no Porto de Áqaba, na Jordânia, onde será tratada e, então transportada para o Mar Morto por um aqueduto de 200 km ao Norte. O projeto está sendo novamente analisado pelas autoridades dos países envolvidos.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

ALIMENTAÇÃO KOSHER

A alimentação Kosher, também conhecida como Kasher, é a alimentação que segue as regras descritas no Torá - o livro sagrado dos judeus - e que é adotada pela comunidade judaica ainda hoje. A palavra, traduzida para o português, significa "adequado" ou "bom", ou seja, tudo aquilo que é adequado para o consumo por judeus. As regras foram criadas em busca de uma alimentação mais pura e que nutra o corpo e a alma. Carnes, derivados do leite e vegetais estão incluídos nesse dieta mas, para ser considerado Kosher, o alimento precisa respeitar uma série de regras rígidas durante a produção e o preparo, além de ser fiscalizado por um órgão especializado. Confira as regras da alimentação Kosher e quais alimentos são liberados. Afinal, quais alimentos são considerados Kosher? A alimentação Kosher não é vegetariana, mas o consumo de carne deve seguir uma série de regras tanto na produção quanto no preparo dos pratos. Além disso, a carne não pode ser misturada em nenhum momento com leite e derivados, nem durante o armazenamento. Para ser permitida nessa dieta, a carne deve ser oriunda de um animal ruminante, por isso, coelhos e porcos não estão incluídos. Aves como frango, peru, ganso e pato também são aceitas, mas as de rapina - ou seja, que se alimentam de outros animais - não são permitidas. Já os peixes, são permitidos apenas os que possuem escamas e barbatanas, enquanto crustáceos e moluscos são vetados desse tipo de alimentação. Além disso, o animal não pode sofrer ao morrer e o seu sangue não pode ser consumido, então é necessário lavar bem a carne antes de prepará-la. Já para o consumo de leite, é preciso que um rabino acompanhe o processo da ordenha para conferir a procedência do animal e garantir que não haja contaminação do produto. Na fabricação dos derivados é necessário fiscalizar se não existe contaminação e nem uso de utensílios que também foram usados na produção da carne. Os alimentos que têm o consumo sem restrições são chamados de parve e são todos aqueles que crescem na terra, como frutas, vegetais e cereais. Os ovos também são considerados parve e podem ser consumidos com carnes e laticínios, mas é preciso garantir que não haja sangue na casca, ou o ovo deve ser descartado. A única restrição é para os derivados de uvas - como o vinho - que precisa ter sua produção acompanhada por um rabino para ser permitido. Por que pessoas que não são judias têm adotado dietas Kosher? Recentemente, muitas pessoas que não são da comunidade judaica têm adotado uma alimentação Kosher, especialmente vegetarianos e veganos. Muitos fazem essa opção para garantir que os alimentos que consomem não estão contaminados com carnes ou outros produtos de origem animal. Outros adotam essa dieta em busca de uma alimentação mais saudável, já que assim é possível saber a procedência da comida - já que as rígidas vistorias dos órgãos Kosher são uma garantia a mais da qualidade do alimento. Os alimentos certificados também são menos suscetíveis a contaminações e contém menos agrotóxicos e conservantes.

SEMITA

Semita é o termo que designa um conjunto linguístico composto por vários povos. A origem da palavra Semita está na Bíblia, mais precisamente no livro do Gênesis quando se trata da história de Noé. Nas escrituras judaicas, um dos filhos de Noé era chamado Sem, o que é uma versão grega para o nome hebraico Shem. A derivação do nome de tal filho de Noé, Semita, passou a identificar um conjunto de povos que possuem traços culturais comuns. Os Semitas tiveram origem no Oriente Médio, onde ocuparam vastas regiões indo do Mar Vermelho até o planalto iraniano. São povos típicos de ambientes com clima seco, o que os caracteriza pelas práticas do pastoreio e do nomadismo. Esses antigos povos identificados pela fala semítica envolvem os arameus, assírios, babilônios, sírios, hebreus, fenícios e caldeus. O passar do tempo apresentou diversos desafios aos povos semitas, que precisaram migrar em busca de melhores condições ou de sobrevivência. A grande expansão semita no mundo se deu através dos povos árabes em consequência da criação do Islamismo, datando do século VII. O reverenciado profeta muçulmano Maomé conseguiu unir diversas linhagens dos povos árabes em forma pacífica sob os dogmas da religião Islâmica. Com a nova configuração apresentada, esses fiéis se lançaram em conquista de um novo mundo, conquistando regiões da Espanha até o Oceano Pacífico. Todavia o poderio desses povos que marcou um extenso império acabou se subdividindo em diversos estados em razão de conflitos, sobretudo, com cristãos e turcos. Os árabes, em várias ocasiões, acabaram submetidos a outros poderes. Os Semitas estão intimamente ligados com a origem das três grandes religiões monoteístas no mundo: o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. A religião judaica nasceu entre os povos hebreus, no Mediterrâneo, durante os conflitos entre cananeus e moabitas. Os judeus também se espalharam pelo mundo muito em razão da invasão dos povos romanos no século I da era cristã. Essa grande dispersão que se deu é reconhecida como a Diáspora Judaica, que resultou na formação de grupos de judeus pelo mundo e no estabelecimento de novos contatos culturais. Assim sendo, as características originais mantiveram-se mais forte apenas entre os grupos que permaneceram no continente asiático. Além das migrações promovidas pelos islâmicos e pelos judeus, diversas outras também ocorreram entre os povos semitas. Tornou-se impossível falar de um grupo étnico homogêneo, pois a grande movimentação incorreu no encontro entre diversas culturas que originou novas características, como é o caso do grande número de línguas que passaram a compor a família semítica. Os povos árabes e os hebreus são os que mais se destacam dentro da linhagem Semita, mas, como já dito, diversos outros comungam de uma mesma origem. Esses vários povos passaram por diversos conflitos especialmente com povos de origem européia no decorrer do tempo. O século XIX marcou uma nova fase de expansão colonialista dos europeus, que buscavam fontes de matérias-primas para seus produtos industrializados e zonas de influência que pudessem garantir o consumo de suas produções. Essa ambição marcou-se, sobretudo, com conflitos entre culturas diferenciadas, nos quais os Semitas estavam diretamente envolvidos. O século XX também foi marcado por muitos conflitos com os povos de origem Semitas, mas também entre eles mesmos, como é o caso dos embates entre árabes e hebreus. A criação do Estado de Israel, após a Segunda Guerra Mundial, gerou um clima de muita instabilidade e confrontos na região do Oriente Médio. O muito popularmente difundido termo anti-semita é utilizado em muitas ocasiões como sinônimo de condutas ou posturas contra os judeus. Mas, é importante frisar, que, no rigor do termo, denota comportamentos de oposição aos povos remanescentes da origem semítica. Arquivado em: História

ESCRITA CUNEIFORME

A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma escrita que é produzida com o auxilio de objetos em formato de cunha. A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo, apareceu mais ou menos na mesma época dos hieróglifos, foi criada por volta de 3.500 a.C. No começo a escrita era meio enigmática, mas com o passar do tempo foram se tornando mais simples. Escrita cuneiforme, de origem Suméria, encontrada no Iraque. Foto: Fedor Selivanov / Shutterstock.com Escrita cuneiforme, de origem Suméria, encontrada no Iraque. Foto: Fedor Selivanov / Shutterstock.com Os sumérios utilizavam a argila para escrever, e quando queria que seus registros fossem permanentes, as tabuletas cuneiformes eram colocadas em um forno, ou poderiam ser reaproveitadas quando seus registros não fossem tão importantes que precisariam ser lembrados sempre. A escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito difícil de ser decifrada, pois possuía mais de 2000 sinais e seu uso era de uma dificuldade enorme. O seu principal uso foi na contabilidade e na administração, pois facilitavam no registro de bens, marcas de propriedade, cálculos e transações comerciais. Com o passar do tempo à escrita cuneiforme foi se popularizando e acabou sendo adotada por outros povos, sendo assim houve uma época em que todos os estados da Mesopotâmia utilizavam este tipo de escrita para se comunicar, trabalhar e até mesmo gravar seus pensamentos. No decorrer do tempo, para que houvesse maior compreensão da escrita, ela sofreu transformações importantes, a escrita cuneiforme assíria se transformou e se tornou diferente da escrita dos babilônicos. Os habitantes da mesopotâmia (utilizadores da escrita cuneiforme) teve uma característica muito interessante na questão da escrita, foi um dos povos que utilizaram e deixaram registrados mais documentos contendo este tipo de sinais. A escrita sempre desempenhou um dos papéis mais importantes na vida desses povos, só que por ela ser muito enigmática e de difícil compreensão eram poucas pessoas que tinham o conhecimento dela. Somente no século XX foram encontrados documentos que esclareciam em partes a complexidade de entendimento desta escrita, sua tradução foi uma tarefa muito árdua. Para conseguir decifrar os documentos encontrados, eram necessários que os estudiosos dominassem outras línguas como o Hebreu e o Árabe, para que possa encontrar dentro do vocabulário dessas duas línguas alguma semelhança que leve a tradução da escrita cuneiforme. Era quase que impossível se estudar a escrita cuneiforme sem conhecer a cultura e quase toda a história das civilizações que as utilizavam, e a cada nova descoberta na escrita cuneiforme era uma parte da História desses povos desvendada. Arquivado em: Civilizações Antigas, Curiosidades

Cânon Muratori

  O Cânon de Muratori é o documento mais antigo que se tem a respeito do cânon bíblico do Novo Testamento, por ter sido escrito por volta do...